Dilema brasileiro: LRF, privatizações, endividamento e taxas de juros.
- Claudio TA Carneiro
- 18 de dez. de 2016
- 3 min de leitura
Em Novembro, no programa Diálogos, Globo News, foi entrevistado o economista André Singer, conhecido como membro do pensamento econômico petista. Superei aversões ideológicas e me dispus assistir a entrevista.
Como esperado fez a defesa ardente do modelo econômico praticado sob aqueles governos, minimizando seu impacto no “desmanche” que produziu na economia brasileira e no caos instalado no Brasil.
Dissertou, porém com perplexidade, sob o fracasso da chamada “nova matriz econômica, dizendo não conseguir entender e nem tão pouco explicar o não comprometimento dos “empresários” com o modelo e a consequente ausência de investimentos, proporcionais as benesses que lhes foram estendidas, através de variados incentivos, renúncia fiscal dentre outros.
Esperavam ter redescoberto a América, posto novamente o ovo em pé. E, porque não, produzido mais uma “jabuticaba”.
Não deu certo como sabemos, tendo nos encaminhado ao momento atual de estagnação econômica em que hora vivemos, aprofundada pela incrível crise politica revelada pela lava jato.
As razões do fracasso da politica econômica petista, a despeito do mar de lama de corrupção envolvente, parece não residir só nisso e insinua ser infensa a politicas não petistas sejam elas quais forem.
Os artigos de hoje, 18/12, do “estadão” creio tenham lançado luzes definitivas sobre o assunto e possam, didaticamente, contribuir para sua definitiva compreensão e balizamento e de quão difícil será sairmos dessa. São eles: “o desmonte do leviatã”, “crise de crédito tirou R$ 1 trilhão da economia e aprofunda a recessão” e “esqueceram da LRF”.
No primeiro deles economistas renomados reapresentam tópicos do naufrágio petista, apresentando a opção privatizante como um caminho obrigatório na solução da imensa crise fiscal.
No segundo fica demonstrada a perversa atuação do segmento bancário que, claro, preferiu entesourar recursos, aplicando-os no mercado financeiro, a remunerações espetaculares, a reinvesti-los, produtivamente, sob a politica econômica vigente, distorcendo completamente os desejos do governo petista. Isso explica em grande parte o fracasso do modelo e, claramente, a ausência de diagnóstico e gestão daquele governo. Não boicotaram o PT e nem o Governo apenas aplicaram a lógica do
e assim sempre será.
Finalmente o artigo do prof., Amir Khair, sob a LRF (Lei de Responsabilidade Fiscal) que cita o recente pacote fiscal do governo Temer, que pretende conter os gastos e impedir que a relação Divida/PIB não extrapole dos 70% atuais para 90%. Porém, segundo o professor, o pacote não contempla o impacto dos juros no déficit fiscal. Em outras palavras juros e bancos estão fora o esforço.
O déficit fiscal, segundo ele, não são os R$ 170 bilhões alardeados pelo Governo na peça orçamentária mas algo em torno de R$ 650 bilhões, se considerados os juros incidentes no cálculo.
O cumprimento da LRF em nível federal, estadual e municipal é o único caminho a se seguir se o equilíbrio orçamentário for o objetivo final da política econômica, incluindo-se os juros na conta, é claro.
Esse é o cenário desafiador de quem quer que venha enfrentar esse tema.
Desmontar o modelo populista-consumista, a começar pela redução do peso relativo dos produtos bancários nos negócios empresariais e pessoais e da espetacular taxa de juros que lhes beneficia, inibindo o endividamento desenfreado.
Para a recuperação do Brasil, além da punição aos corruptos já conhecidos ou em via de o serem, não basta reestruturar a previdência, privatizar o estado, controlar a responsabilidade fiscal mas, sobretudo, enfrentar o maior vilão que são os bancos e desmontar o “paraíso do rentismo” e que se transformou o Brasil.
Convenhamos, não será tarefa fácil para ninguém.
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